quarta-feira, 31 de maio de 2017

Uma andorinha só não faz nem cócegas

Uma andorinha só não faz verão, menos ainda numa democracia.

Numa democracia os idiotas se governam, e aqueles que não governam, são governados, são a maioria, são súditos.

São, melhor dizendo, gado, que vai trabalhar 40/50 anos pra ter uma aposentadoria e uma vida digna e feliz, isto é, com muita sorte de conseguir pagar seus remédios eqnaunto busca na memória os sonhos que já esqueceu.

Nunca é o momento pra quem vive de capim

Passará

Passarinho quando canta, canta igual aos demais de sua espécie por imitação fajuta ou porque é esta sua essência?

E a gente?

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Mera questão...

Fosse mera questão de eletrônica, 'jumpeava' meu coração à boca, que é pra não ter que passar nunca mais pelo cérebro

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Miragem

Compartilhando um dos textos mais bonitos que já li... 

Aprendizado condensado em forma de luz

Amor...

"Miragem" - Verônica ab Thule 


"Um dia um raio de luz solitário foi ao Pólo Norte. 

-Você gostaria de participar do balé de hoje? – perguntou Boreal. 

O raio de luz girou sobre si mesmo aumentando o comprimento de sua freqüência de onda até que se tornou 
vermelho-púrpura, sinalizando para a noite que não  desejava participar. 

- Existe algo então que eu possa fazer por você? – completou ela, fazendo jus à sua fama universal de grande anfitriã. 

O raio de luz começou a conversar com ela, aumentando e reduzindo o comprimento de sua onda, transmitindo o teor de seu pensamento na bela linguagem de cores que a Noite Ártica sabia entender.  

A linguagem dos raios de luz era uma das mais belas dentre todas as formas de comunicação somente comparando-se em encantamento à dança dos Elfos. 

O raio de luz disse-lhe que viera apenas assistir ao espetáculo pois estava cansado. Chamava-se Miragem.  

- Do que é que você está cansado? – perguntou Boreal. 

E Miragem contou-lhe a sua história. 

Um dia eu passeava pela Terra subindo e descendo reluzindo pelo ar, acompanhando um grupo de raios novos. Acabávamos de chegar do Sol, quando para nosso espanto vimos descer dos céus um belo ser.  

Ele vinha em sua casa flutuante. Todos nós ficamos muito curiosos porque éramos jovens e ainda não conhecíamos muitos seres. Chegamos perto para observá-lo e à sua casa e nos divertimos a valer refletindo-nos em sua habitação de brilho sutil e translúcido. Ao cair da noite meus amigos cansaram-se da novidade e se foram, e outros vieram para se fundir às luzes que a habitação fazia. Eu fiquei. Fiquei até de madrugada. 

A noite não me apraz mas... ah, desculpe-me – o raio de luz corou constrangido ao lembrar-se de que estava falando com uma Noite – quero dizer, eu não conhecia nada naqueles tempos... 

- Não se preocupe, não estou ofendida – disse a Noite Boreal – Mas o que era esse ser? Bem, como eu disse era madrugada, quando vi o ser sair de sua casa e andar pela planície sem nenhum receio. Eu o segui.  

- Porque você não partiu com os seus amigos? – O visitante dos céus me perguntou. Qual não foi a minha surpresa quando ele falou comigo! 

Você sabe, poucos seres conhecem a nossa linguagem.

- Estou curioso a seu respeito – eu respondi – onde aprendeu a falar a língua dos raios de luz? 

- Sou um Elfo – ele disse – conheço as linguagens de todos os seres. 

Então conversamos por muitos dias, até que eu falei que desejava amá-lo. 

- Podemos amar um ao outro – disse o Elfo – mas você é jovem, e precisa saber que o amor é incerto.

Precisa saber construir-se mais denso com o que recebe de um amor, e não perder-se quando este se vai, pois um Elfo não tem parada e a minha natureza vai fatalmente me levar para longe de você, e você é um Raio de Luz e precisa ainda conhecer todo o Universo, e a sua natureza também vai te carregar para longe de mim. 

Eu pensei que tinha compreendido aquilo, e amei o Elfo. 

Então ele se transformou em luz e viajamos pelo espaço de mãos dadas, e ele me ensinou a fazer espelhos no mundo dos homens, entrando nos meios certos e reduzindo a velocidade. Esses meios faziam em nós uma curva que nos fazia vibrar todo o corpo e nos jogava um contra o outro, o que quase nos fundia. 

Batíamos então na matéria escolhida e ricocheteávamos, deixando atrás de nós o espelho onde antes nada havia.  

Um dia o Elfo foi embora. 

- Vou me juntar aos homens – ele disse – é meu tempo de estar entre eles. Quando eu estiver lá vou vê-lo mas não vou me lembrar de você. Se isso acontecer saiba me perdoar. Seu amor me tornou melhor, espero que o meu tenha feito o mesmo por você.  

Então fizemos uma grande viagem juntos em torno do planeta, e terminamos o nosso passeio fazendo um grande espelho na Finlândia, e foi a primeira vez que ouvi os homens nos chamando de miragem. Adotei esse nome para lembrar-me desse dia. 

- E o que aconteceu depois?  O amor dele me deixou mais brilhante e mais denso, mas mesmo tendo sido avisado, senti falta do Elfo. 

Sei que ele não se lembra de mim, porém vou lembrarme dele para sempre. 

Então faço espelhos pelo mundo, em todos os cantos, o tempo todo. 

Corro o mundo fazendo espelhos, e todos os homens me chamam de miragem em todas as suas línguas. 

- E porque você faz isso? 

Sei que os homens sofrem, e sei que o Elfo está entre eles. Então faço as miragens pelo mundo, as mais belas que posso, pois quem sabe um dia o meu Elfo esteja olhando para uma delas, e o espelho que lhe dou de presente possa lhe fazer feliz por um instante ou aliviar o seu coração se ele estiver pesado. 

E quem sabe lá no fundo ele possa se lembrar de mim, e do mundo como é aqui fora, e então assim ele saberá que o seu tempo com os homens logo passa. 

A Noite ficou comovida. 

- Entendo você – disse ela, pensando de uma forma que já não fazia há muito tempo em seu amor perdido."

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

El Otro

O OUTRO

Por que clamas aos deuses, às estrelas,
às espumas de ocultos oceanos
ou às sementes de jardins longínquos,
se o que te fere é a tua própria vida,
se o que crava as garras nas tuas entranhas
é o nascer de cada novo dia
e a noite que cai,
retorcida e assassinada?
Se o que sentes é a dor em outro alguém,
que não conheces mas que está sempre
presente
e é vítima, inimigo, amor,
e tudo aquilo de que
precisas para alcançar a totalidade?
Não te entregues ao poder das trevas
nem esvazies de um só trago a taça do prazer.
Olha à tua volta: existe outro alguém,
sempre um outro alguém.
O que ele respira é a tua asfixia,
o que ele come á a tua fome.
Morto, levará consigo a metade mais pura
da tua própria morte.


“El Otro”, de Rosario Castellanos

terça-feira, 18 de setembro de 2012

A cidade é do poeta

A cidade é do poeta
De quem mais seria?
Se é tão sombria
Que não te esquecia
E o que seria do poeta
Sem a claustrofobia
Nem a sociofobia
ou a ego-idolatria
Que só a cidade propicia?
A ausência de valores
As saudades dos amores
de um reino fantasia
Que a cidade que impedia
E mesmo a falta de imaginação
O excesso de castração
De barulho e iluminação
até de falta de afeição
Pra por fim a uma canção

Vivendo contra a própria vida

Eis que o cerne da questão volta a tona:
A vida que acredito e amo e cantaria aos 4 cantos é que é contra a vida que devo levar?
Ou
É a vida que devo levar (e levo) que é contra a vida?